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Autoras para Conhecer Literatura

Literatura representativa: conheça 5 autoras negras latino-americanas

O dia de hoje, 25 de julho, é conhecido como o Dia Internacional da Mulher Negra Latino-Americana e Caribenha. Essa data reafirma a necessidade de enfrentarmos o racismo e o sexismo compartilhados por mulheres que sofrem com a descriminação racial, social e de gênero.

A ocasião relembra a luta e resistência da mulher negra para reafirmar seus direitos em uma sociedade patriarcal. Essa luta se dá em diversos âmbitos sociais, desde oportunidades de estudo e trabalho, garantia de direitos básicos, segurança, representatividade na mídia e muito mais. 

Por isso, nós da Pormenores selecionamos algumas autoras negras latino-americanas que merecem os holofotes. Confira abaixo:

Edwidge Danticat (Haiti)

Premiada diversas vezes pela obra “Everything Inside” (2017), Danticat explora morte e luto em diversos títulos de seu catálogo. A inspiração para isso vem de uma expressão haitiana que sua mãe costumava dizer: “Nou tout a p mache ak sèkèy nou anba bra nou.” A expressão pode ser interpretada como “todos estamos carregando nossos caixões conosco todos os dias” ou “nós estamos constantemente evitando a morte”.

Em “Everything Inside”, Edwidge aborda diferentes perspectivas sobre como as pessoas lidam com a morte de seus entes queridos e a sua própria. É uma coletânea brilhante de contos que merece destaque na estante de qualquer pessoa.

Ana Maria Gonçalves (Brasil)

Nascida em Ibiá, no estado de Minas Gerais, Ana Maria começou a escrever contos e poemas na sua adolescência, mas começou sua carreira como publicitária em São Paulo. Em 2002, abandonou a carreira para escrever seu primeiro livro, “Ao lado e à margem do que sentes por mim”. 

Seu segundo romance, “Um defeito de cor”, foi lançado em 2006 pela editora Record e conquistou o Prêmio Casa de las Américas na categoria literatura brasileira e é referenciado por diversas personalidades brasileiras.

Cleyvis Natera (República Dominicana)

Nascida na República Dominicana mas criada nos Estados Unidos, Cleyvis é uma crítica e autora que lançou seu primeiro romance, “Neruda on the Park”, em 2022. O livro conta a história de uma família dominicana em Nova Iorque que precisa se adequar a uma nova vida em meio a gentrificação.

Apesar de ter estreado no ano passado, Natera já teve pequenos contos e artigos publicados em grandes veículos como a revista TIME e o jornal The Washington Post.

Lélia Gonzalez (Brasil)

Mineira de Belo Horizonte, Lélia Gonzalez foi uma intelectual, autora, filósofa, política, professora e antropóloga brasileira que deixou, como legado, um catálogo indispensável para compreendermos a cultura negra e a presença do negro na sociedade brasileira.

Abordando temas raciais, mas também de gênero, Lélia se tornou uma das maiores referências nacionais com títulos como “Lugar de Negro” e “Por um Feminismo Afro-Latino-Americano”.

Heloisa Pires Lima (Brasil)

Nascida em Porto Alegre, Heloisa se mudou para São Paulo aos nove anos de idade e reside lá até hoje. A escritora e pesquisadora é autora de livros infanto-juvenis que abordam a cultura afro-brasileira.

Como destaque, vale a leitura da obra “Histórias de Preta”, publicada pela Companhia das Letras e aclamada em premiações como José Cabassa e Adolfo Aizen. A obra é um compêndio que aborda os vários aspectos da história de uma construção da identidade de uma menina negra.

Consumir literatura de diferentes culturas e origens é fundamental para criar uma diversidade de influências, e também é uma das formas mais eficazes de compreender os desafios e dilemas enfrentados por outras pessoas. A leitura é, entre muitas coisas, um exercício de empatia e uma arte de comunicação.

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Curiosidades

Da primeira gramática um revisor não esquece

Eu tinha 9 anos quando meu pai me trouxe um exemplar dessa Gramática Ilustrada que ele achou – já não tão atual naquele momento, mas que viria a ser de fato essencial na minha vida. Eu ainda não sabia, mas esta foi a primeira de uma pilha de gramáticas e manuais que eu teria futuramente.


Lembro do quão curiosos achei os termos do tipo “sintaxe”, “anacoluto”, “cacófato” e da vontade imediata de ler todo aquele manual como se fosse uma hq. Queria decorar, sabe deus por que, todas as regras apresentadas, achava sensacionais as explicações, os exemplos, mal sabendo que muita coisa ali poderia já estar até ultrapassada – sim, a língua é viva, minha gente!


Se isso se deu porque eu já teria uma predisposição a trabalhar com a língua portuguesa ou se me tornei letróloga por ter me apaixonado por aquela gramática – ou nem uma coisa, nem outra –, nunca saberemos.


O fato é que isso virou uma lembrança boa, e como profissional do texto consigo perceber hoje sensos comuns que caem por terra quando passamos a estudar essa coisa toda de regras.


Certo ou errado?
A “preocupação” que tive de decorar cada página da minha linda gramática era puro entretenimento. Inusitado? Talvez, mas era isso. No entanto, não é difícil notar que crescemos absorvendo a noção de que dominar regras gramaticais se correlaciona a uma suposta superioridade.


Quem nunca se deparou com um “professor de português” nos comentários de redes sociais corrigindo “erros” de desconhecidos com a imensa certeza de que está prestando
grande serviço à sociedade? Repare no tom preeminente de quem distribui correções não solicitadas.
A minha própria gramática ilustrada traz os seguintes dizeres na epígrafe:

Foto da epígrafe onde se lê: “Desconhecer a língua pátria é vergonhoso; desrespeitá-la é afrontoso. O princípio da nacionalidade, docivismo e da própria cidadania começa com o respeito à língua pátria. Ame-a, cultive-a quanto puder!”
“Desconhecer a língua pátria é vergonhoso; desrespeitá-la é afrontoso. O princípio da nacionalidade, docivismo e da própria cidadania começa com o respeito à língua pátria. Ame-a, cultive-a quanto puder!”

É eita atrás de vixe! “Nossa, essa revisora de textos é contra escrever ‘certo’?”. Calma, lá! Eu amo a língua portuguesa, amo estudar as regras e nuances da linguagem, e prezo por um trabalho de revisão impecável quanto a eliminar erros na escrita. Mas não vou ficar revisando mensagens de WhatsApp ou interações nas redes sociais com tom de julgamento, simplesmente porque aquilo não é um texto científico que vai ser avaliado, e porque entendo que a norma-padrão não é a única existente.


Assim como a gente costuma usar um tipo de roupa para cada ocasião, eu não vou escrever um texto para uma cliente que está negociando um serviço da mesma maneira que escrevo para minha irmã, que certamente não vai ligar se eu dispensar uma concordância ou duas e abreviar umas palavras.


O que acontece é que culturalmente julgamos alguns modos de falar e escrever como mais “corretos” que outros. Existe a forma considerada de prestígio, e outras que são entendidas como inferiores. Mas ao falarmos de linguagem a realidade vai muito além do conceito de certo e errado, e as pessoas desconhecem isso pelo fato de, por diversas motivações sociopolíticas, terem vivido um modelo de ensino que enfoca muito mais a norma-padrão, dando menos atenção à variação linguística e ao preconceito linguístico – e isso já é tema para outro post.

Então quer dizer que é errado estudar gramática?
Não! Você pode aprender as regras da norma-padrão (aquelas listadas nos manuais de um jeito suuuperlegal) com a consciência de que esse não é o único modo de se comunicar e tá tudo bem! Inclusive, que massa se você dominar a norma-padrão para aplicar nos contextos em que isso for necessário e ao mesmo tempo usar tranquilamente seus outros modos de se comunicar com a segurança de que não está ofendendo ninguém.


Então agora preciso fazer igual você criança e tentar decorar a gramática inteira?
Não também! Ninguém precisa decorar nada, nem eu mesma – inclusive, revisor nenhum no mundo vai decorar todas as normas de um idioma, nem é esse o objetivo da profissão. O que você precisa para ser feliz é ter a segurança de estar se comunicando de maneira eficaz, seja em contexto formal ou informal.


Como vou escrever um bom texto formal se não conheço tantas palavras rebuscadas ou formas bonitas de me expressar?
Notícia boa para você: já foi o tempo em que linguagem formal é sinônimo de escrita difícil e pedante! Com as devidas ressalvas de textos técnicos que possuem suas particularidades, é lindo de se ver um texto acadêmico, por exemplo, que não despeja palavras dificílimas facilmente evitáveis e construções imensas cheias de volta só para parecer bem escrito. Portanto, ser simples e sucinto gera ótimo efeito na escrita.

Como eu faço pra falar português “certinho” se eu não estudo gramática?
Do jeitinho que você vem fazendo a vida toda! Ao contrário do que a epígrafe da minha gramática ali em cima dá a entender, a língua pátria é muito mais do que as regras da norma-padrão, que inclusive vão se alterando com o tempo de acordo com os usos dos falantes. Ela abrange todas as múltiplas formas de comunicação perfeitamente
dominadas mesmo pelas pessoas de baixa escolaridade que podem parecer, aos desavisados, “não saber falar corretamente”.


Para entender melhor o tema do preconceito linguístico, recomendo o cara que é referência no assunto e super-reconhecido na área: Marcos Bagno. Entre seus vários livros incríveis, uma boa introdução é feita em Preconceito Linguístico.


Hoje, pego carinhosamente essa gramática nas mãos com a consciência de que não saber uma conjugação ou outra não faz de ninguém um antipatriota, ao mesmo tempo que mantenho a ânsia por corrigir alegre e minuciosamente os textos que chegam para revisão aqui na Pormenores.

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Livros citados:
BAGNO, M. Preconceito Linguístico. 54. ed. São Paulo: Edições Loyola, 1999.
SACCONI, L. A. Gramática Essencial Ilustrada. São Paulo: Atual, 1994.
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